"Tudo o que temos é o instante,
Lançado o novo livro de Maria Mamede, publicamos o texto sobre o acontecimento, do autor do prefácio: António M. Oliveira.
Conheci-a a quando da publicação do meu segundo livro ‘Nove contos
menos mais um’, que deu origem a um mail seu que nunca mais apaguei,
vai fazer catorze anos em Novembro próximo.
Depois descobri pelo editor e amigo comum, que era uma poeta -desculpem
se não uso o palavrão poetisa- por me parecer destinada a uma criancinha
da primária e não a uma fazedora de imagens e emoções com forma de
versos, como a Maria Mamede nos habituou, já lá vão muitos anos e muitos
livros.
Por ela estar lá, em todos os seus livros, porque a língua -a linguagem-
apesar de comunitária, é íntima e pessoal, mostra experiências e emoções,
com as palavras a conquistarem-se só quando se vivem, sinais escritos,
aprendidos e purificados, quando assumem a forma de versos, de poemas e
de nos porem a imaginar, fazer sorrir e, por que não... chorar.
A vida está cheia de literatura e a literatura, aqui nos seus poemas, ressuma
vida, porque a vida é e melhor metáfora da comunidade onde somos e que
partilhamos, por nela estarem os sentimentos de cada um e fazerem das
páginas de um livro, o espaço público onde todos deveríamos viver.
E lá, nesse espaço público virtual, afirmo-o mais uma vez, ela está lá, em
todos os livros e é, só e sempre, a Maria Mamede.
Depois ficámos amigos, daqueles que quando se encontram parece terem-
se desprendido ontem, mandamo-nos escritos um ao outro -e até tenho no
computador quase todos os livros que ela ainda tem para editar!-
Mas convém, salientar que nós todos, como a Maria Mamede e eu, somos
também marcados pela família, a que vamos tendo, criando, perdendo ou
deixando, ao longo dos anos.
Mas há outra que nos é importante também, a que vamos juntando cá bem
dentro de nós: os amigos que nos dão a riqueza de crescer, de nos fazer
desenvolver, de nos completar, da mesma maneira que o fazem as formas e
cores da natureza e seus pintores, mais os escritores, os músicos, os poetas,
os cantores, todos aqueles que nos levam a juntar risos e lágrimas de não
esquecer, de guardar, de poder ir depois pedir um abraço, -ainda bem que o
covid não é para aqui chamado!- e a Maria tem um lugar cimeiro nessa
minha família interior.
Por isso, de uma maneira ou de outra, também estou presente em cada livro
que vai editando para nosso contentamento e -perdoem-me dizê-lo aqui,
publicamente e sem nenhuma vergonha, e para a minha vaidade- por que
me avisou há mais de um mês que tinha também de botar faladura, bem
como o Jorge Castelo Branco.
Saiba assim também, minha querida Amiga, que estou e estarei sempre,
quando for esse o seu querer, e a vontade dos deuses o continuar a
autorizar.
Do livro que o Nelson apresentou de maneira soberba, não tenho mais nada
a acrescentar ao que já deixei no prefácio.
E por esta festa ser dela -tenho de a dizer assim-, não tenho mais nada a
fazer aqui, muito obrigado por me terem ouvido e, por tudo o que temos ser
só um instante, deixem-me ainda dar um abraço à Maria Mamede, a minha
amiga de alguns anos, que parece ter sido... de sempre.
António M. Oliveira
22.06.04