“Mandar abrir o mar”, é uma obra mareira apoiada numa memória que em criança o pintor António Mendes viveu de perto acerca do célebre naufrágio de 1947, e que vitimou mais de centena e meia de pescadores, alguns deles com morada temporária, outros, abrigados em residência fixa em Leixões. (...) Mas também, este livro, por vezes agita-se desesperado, nas águas tormentosas e desobedientes aos pedidos piedosos contra o ‘Mar mardito’. Trata-se de uma história envolvente que o pintor não só quer macerar em forma de choro, sobre o naufrágio de 1947, como faz convergir uma manifestação de afecto ao seu avô, uma espécie de sentimento pela sua presença/ausência. António Mendes formula uma intenção, acende uma luz votiva, oferece o seu trabalho com as mãos em prece ainda manchadas de tinta e, nos lábios trémulos balbucia um clamor, uma prece, que se mistura ansiosamente na ‘cumprição de um dever’.